Capítulo 7 – Para explicar melhor o capítulo 6
“A dúvida é o principio
da sabedoria”. Aristóteles
Certa feita, o doutor
Sigmund Freud acabava uma de suas palestras quando uma senhora aproximou-se
dele e perguntou qual seria a melhor maneira de educar seu filho. Freud
disse-lhe para educar a criança de qualquer jeito, pois iria inevitavelmente
errar.
Faço aqui um relato que
surpreendeu pesquisadores americanos que estudaram a influência do
comportamento dos pais nas escolhas dos filhos. Nessa pesquisa foram
entrevistados dois irmãos gêmeos que, aos 25 anos tinham seguido caminhos muito
diferentes. Um deles estava fazendo pós-graduação em Harvard, era um
cientista.O outro aguardava a execução no corredor da morte, era um homicida.
Quando perguntados sobre
os motivos de estarem onde estavam, ambos deram, curiosamente, a mesma
resposta: “Sendo filho de um pai alcoólatra e usuário de drogas que espancava a
esposa e os filhos constantemente, não havia outro caminho a seguir a não ser
esse”.
Seria estupidez acreditar
que para se conseguir um doutor de
Harvard os pais deveriam usar drogas e espancar a esposa e os filhos. Mas seria
ingenuidade acreditar que só filhos espancados pelos pais são levados para o
crime.
Escrevi isso porque talvez tenha ficado ao
atento leitor uma sensação de desconforto quanto ao que se leu no capítulo
anterior. Seu bom senso o faria pensar que o autor desse texto defende a
aceitação e a prática de maus-tratos.
Vamos corrigir isso imediatamente e esclarecer que:
• Os métodos que são eficientes na
educação de uma criança não serão necessariamente bem sucedidos na educação de
outra criança. Cada pessoa responde de forma diferente aos estímulos ou às
repreensões recebidas;
• Numa mesma família, há filhos que
se orientam facilmente pelo diálogo, outros podem necessitar de um discurso
mais austero, outros podem perceber onde erraram somente quando deixados a sós,
consigo mesmos, naqueles 15 minutos de reflexão forçada no silêncio do quarto. E
finalmente há aqueles que a orelha não ajuda que se ouça e compreenda uma mensagem.
Para esses,talvez, um puxãozinho nessa orelha possa lembrar que ela existe.
• Não conheço ninguém que goste,
aceite ou compreenda um constrangimento, pois essa é uma experiência
extremamente desagradável;
• O vexame só tem algum efeito
positivo se faz a pessoa ver a si mesma na sua pior forma, para que ela queira
buscar a sua melhor versão;
• Nada de bom advém de uma intenção
maligna. Se os pais acreditavam que a humilhação colocaria seus filhos no caminho
do bem e da verdade, isso vinha de um zelo só decorrente do amor, por mais
severo que parecesse;
• Ninguém pode educar a partir da violência, agressões gratuitas, injustas e
desmedidas devem ser banidas de uma sociedade civilizada. Minha mãe dizia que
suas palmadas no traseiro nos empurravam para a frente e seus puxões de orelha
nos levavam para o alto. Bela justificativa.
• Na maioria das vezes, e
infelizmente, nossos políticos não servem de referência moral, pois já perderam
a sensibilidade necessária para envergonhar-se. Os poucos que lá estão,
preservados, devem ter vergonha, sim, de serem honestos, como diria nosso Rui
Barbosa.
• Transformar um vexame em um
aprendizado não é fácil, nem rápido, muito menos indolor. É preciso praticar a
humildade com paciência e amor próprio. Ser humilde não significa ser inferior,
mas ter consciência plena e tranquila de seus limites e de suas incertezas.
• Vivemos tempos em que se idolatra a
beleza e o poder, em que a vaidade cega as pessoas e as afasta da consciência
crítica. É urgente resgatarmos a famosa “vergonha na cara”, que formou gerações
de pessoas responsáveis e que demonstravam respeito aos seus pares. Hoje a vida
parece significar muito pouco, especialmente a do outro.
Enfim, não precisamos ter
vergonha de ter vergonha, pois ter vergonha significa que temos a capacidade de
buscar referências, perceber como e por que erramos e, principalmente, a
vergonha nos motiva a rever posicionamentos.
A
atriz Cássia Kiss, que há alguns anos, depois de assumir publicamente que
quando jovem realizou um aborto ilegalmente, aderiu às campanhas de orientação
para a preservação da vida e para o aleitamento materno, inclusive amamentando
seu filho em uma bela e rica demonstração de reelaboração de atitudes.
Como
pais e educadores, viveremos sempre o dilema de educar. Sempre acharemos que
fomos duros demais ou complacentes demais com aqueles sob nossa
responsabilidade. Há muita diferença entre ser bom e ser justo. A justiça não
supõe bondade, supõe equilíbrio.
Quantos
desequilibrados andam por aí, causando dor e sofrimento a si e aos outros – são
depredações de patrimônio, espancamentos de mendigos, atropelamentos, roubos,
assassinatos, agressões nascidas de preconceitos, abusos e crimes contra a
própria família – não poderiam ter sido melhor orientados quanto aos danos que
seus comportamentos iriam trazer a eles e aos outros no futuro.
A criança mal intencionada e de
instintos destrutivos, protegida por uma lei que proíbe que ela leve umas boas
e educativas palmadas, se tudo correr mal,será um bem sucedido agressor de seus
próprios pais, de seus filhos e de quantos mais estiverem em seu caminho.
Mané amei o livro !!! sinto tanto a sua falta e das nossas conversas bjs no coraçao
ResponderExcluir