terça-feira, 11 de dezembro de 2012



Caro leitor, imagino que esse capítulo possa parecer um tanto quanto politicamente incorreto. Por essa razão, tenha calma até que o cap. 7 seja publicado, pois tudo se explicará.


Capítulo 6 – Vexame e Constrangimento


“Naquela hora, chegaram-se a Jesus os seus discípulos, dizendo: Quem é o maior no Reino dos Céus? E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles e disse: Na verdade vos digo que, se não fizerdes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus. Todo aquele, pois, que se humilhar e se fizer pequeno como este menino, esse será o maior no Reino dos Céus. E o que receber em meu nome um menino como este, a mim é que recebe”.  Mateus, XVIII: 1-5
                                                                                                         
 E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno” Mateus, V: 27-30
                                                                                                         

O dicionário nos esclarece que vexame significa humilhação e sentimento de vergonha, já constrangimento significa perda de liberdade e também o sentimento de vergonha. Todos aqueles que lerem essas linhas, provavelmente já experimentaram essas duas situações mais de uma vez.
Nosso viver dos dias nos obriga às mais diferentes realidades, contatos com pessoas muito diferentes de nós, pessoas que se consideram e, em alguns casos,  são superiores a nós em termos sociais, intelectuais e econômicos.
Geralmente, somos imobilizados pelos sentimentos de vexame ou constrangimento porque eles abalam nossa autoestima, fazem-nos pensar que somos de fatos inferiores. Somos projetados para baixo, desejamos não estar ali ou simplesmente evaporar para escapar desse momento.
Só falta agora tentar convencer o leitor de que o vexame e o constrangimento podem ter algo a acrescentar de positivo na vida de alguém. Vamos lá, um pouco de paciência sempre faz bem.
Recentemente um “nobre” senador do Brasil foi advertido publicamente pelo conselho de ética do senado por desvio de verbas de campanha. Esse homem, adulto, figura pública, foi advertido por apropriação indébita de recursos em rede nacional com a possibilidade de estar sendo assistido por sua esposa, filhos e talvez até seus netos. Esse homem chegou a declarar que em toda sua vida jamais tivera a experiência de ser repreendido em público, nem mesmo pela sua mãe.
Sem dúvida, um imenso vexame e um constrangimento que levou este homem às lágrimas, ao que pareceu,  sinceras.
Esse fato tem aspectos curiosos a serem levados em conta. Primeiramente digamos que apropriação indébita é, para a gente comum, o mesmo que roubo, nosso nobre senador é de fato um ladrão. A advertência que o levou às lágrimas só conseguiu isso dele, pois nenhum centavo dos milhões que ele roubou foi devolvido. Mais, a rede nacional da TV Câmara tem muito pouca audiência, modesta seria até um elogio. 
O mais intrigante e ao mesmo tempo esclarecedor é o fato de ele ter dito que nunca havia sido constrangido em público durante toda sua vida.
Talvez, se a mãe o tivesse feito sentir vergonha por algum desvio de conduta, quando criança, esse cidadão não teria se sentido tão à vontade para roubar da forma como roubou, nem teria se chocado tanto com uma advertência que só lhe custaria um arranhão na sua vergonha na cara, se ele tivesse alguma vergonha a ser arranhada.
Parece ser um discurso generalizado e perigoso aquele em que se proíbe que qualquer criança ou jovem seja vítima de um constrangimento ou vexame. Obviamente que ninguém deveria publicamente ser humilhado por motivo fútil ou simples maldade, um simples desejo de machucar os sentimentos de alguém – não se pode admitir que alguém zombe de uma criança por esta estar mal vestida, ou por apresentar alguma dificuldade ou limite que a impeça de viver dentro do mais justo conceito de cidadania – mas chegamos ao extremo oposto de sugerir que uma resposta errada em um exame escolar não fosse assinalada com caneta vermelha, já que nota vermelha implica reprova, uma nota abaixo da média. Para alguns sábios doutores, a caneta vermelha causaria constrangimento ao aluno, mesmo que se reconheça que um zero com caneta azul valeria tanto quanto.
Ora, mostrar a alguém o seu real desempenho não tem nada a ver com vexame ou constrangimento. É parte do processo de se aprender.
Ainda dentro do extremo oposto, já fui aconselhado a nunca dizer a uma criança que ela está mentindo, mas que está faltando com a verdade. Eufemismo que deseduca, encapsula, aliena e corrompe o sentido real do ato.
Aliás, um grande palestrante espírita, Divaldo Pereira Franco,falando sobre a mentira, afirmou que em todos os seus mais de 80 anos de vida aprendera que a mentira é um fato na vida do homem.
A criança mente por excesso de imaginação – “conversei com o pato Donald”, por exemplo - o que é uma qualidade do ser. Mais tarde ela mente por conveniência  - “não fui eu quem quebrou isso” – proteger-se, para ela, justifica a mentira. 
Mais tarde ela mente para obter vantagens ou figurar como esperto – “juro que não estava fumando” – a mentira não é só uma necessidade, mas uma opção consciente.
Por fim o adulto mentirá por absoluta falta de caráter, o caráter que as mentiras inocentemente impunes acabou por deteriorar-se de forma irreversível.
Lembro que numa ocasião, um de meus irmãos mais velhos, por volta dos treze anos, apropriou-se ou roubou um brinquedo da casa de um amigo. Ao ser pego de posse do brinquedo, não soube explicar sua origem, argumentou que era um presente do amigo.
Minha mãe, que era uma educadora dos rudes tempos  mais antigos, levou- o até a casa do amigo e, na frente do amigo e outros convidados especiais – umas quatro ou cinco pessoas - teve de assumir o malfeito. Depois do vexame, além da semana sem sair de casa, meu irmão nunca mais apropriou-se de nada que pertencesse a outra pessoa.
Hoje é um homem correto, paga suas contas em dia e educa seus filhos mais ou menos no mesmo sistema da nossa mãe, mesmo que isso lhe custe a antipatia dos  mais complacentes e permissivos em questões de moral e comportamento.
Em tempo: enquanto escrevo, ouço na TV que foi aprovada a lei que proíbe que os pais deem palmadas  em seus filhos. Poderiam aproveitar e aprovar uma lei que proíba os filhos de darem surras em seus pais. Como professor, testemunhei  com tristeza o depoimento de pelo menos três pais que eram vítimas das agressões físicas de seus filhos. Não é necessário muito esforço para perceber que se um tapa do pai no filho pode constranger a criança, um filho que bate nos pais é caso, isso sim, de polícia.
Gostaria de concluir esse capítulo lembrando uma célebre orientação que Cristo dá acerca do melhor modo de se portar em um banquete. Diz o sábio mestre que devemos procurar o lugar menos importante da mesa, pois o máximo que poderia nos acontecer, seria sermos chamados para mais perto do anfitrião, o que nos  honraria.
Por outro lado, se nos sentarmos próximo ao anfitrião, poderemos ser convidados a ceder nosso lugar para alguém mais importante que nós, vexame que pode ser evitado. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário