Capítulo 4 – De onde
vem a ideia de bom ou ruim?
“O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando
não há. Mas o demônio não precisa de
existir para haver”.G. Rosa
O pensamento maniqueísta
norteia a realidade da maior parte das pessoas. É maniqueísta todo aquele que
partilha da concepção do mundo dividido entre o Bem e o Mal. De um lado estão
Deus, a luz, a verdade, a bondade e a alegria. De outro estão o Diabo, as
trevas, a mentira, a maldade e a tristeza. Dito assim parece muito fácil
decidir o que se quer. Ou se está na galeria das pessoas boas ou corre-se o
risco de ir para o fogo eterno.
Convém lembrar alguns
riscos que essa concepção oferece àqueles que querem respostas simples e
diretas para seus questionamentos.
Primeiramente, nem todo
aquele que faz o bem tem plena consciência disso, uma pessoa boazinha pode ser
simplesmente alguém que prefere não dizer o que pensa, nem discordar dos que a
cercam, para garantir uma área de segurança e estabilidade emocional.
Também seria ingênua a
ideia de que toda pessoa que nos desagrada é mal intencionada. Pode ser que uma
sincera preocupação em relação a nós a obrigue a nos dizer verdades que
preferiríamos não ouvir. O grande orador do Barroco, Padre Antônio Vieira,
afirmou certa vez que quando saía feliz depois de uma missa, isso era porque o padre
só havia dito o que ele queria ouvir. Se padre falasse o que ele devia ouvir,
ele ficaria triste consigo mesmo, pois perceberia o quanto estava distante
daquilo que Deus espera dos homens.
Talvez os dias melhores
que tanto queremos possam se tornar reais a partir de uma mudança de
perspectiva em relação ao que vivenciamos diariamente. Quem aponta nossos
limites e imperfeições pode até não gostar de nós, mas certamente está
prestando um grande serviço ao nos indicar caminhos para sermos melhores.
Invertendo as posições,
comumente nos vemos aconselhando as pessoas para que seus problemas sejam
sanados, obviamente sem sucesso, pois ninguém escuta senão a própria voz, que
pode simplesmente coincidir com nossos conselhos. A história registra um dos
mais sábios provérbios quando diz que “Se conselho fosse bom, não se dava,
seria vendido.”
Decorre dessa
circunstância um motivo claro para algumas das frustrações: Ninguém nos ouve, e
depois acabam tendo problemas que seriam facilmente evitados com nossos
“sábios” conselhos. Há duas grandes verdades a se considerar quando nos vemos
diante de situações como essa.
Todas as pessoas tendem a
melhorar na medida em que ficam mais experientes, mesmo que essa evolução seja
lenta e por vezes irritante, cada um amadurece no seu ritmo, e não é nossa
responsabilidade a evolução do outro. Entenda-se aqui que podemos e devemos
ajudar quem quer ser ajudado, apenas não leva a nada nos importarmos com quem
não se importa consigo mesmo.
Uma segunda consideração
é a de que somos criados para vencermos e sermos adorados por todos. Ficamos
muito deprimidos quando percebemos que alguém não gosta de nós. Ora, admitir
que não podemos agradar a todos é um raciocínio saudável e construtivo, afinal,
tudo o que desejamos é ter a liberdade de gostar do que e de quem mais nos
apraz. Em resumo, quem não é exatamente um fã pode mesmo assim contribuir para
nosso crescimento individual.
Finalmente cumpre lembrar
que na cultura chinesa há um símbolo elementar para uma melhor compreensão dos
elementos que se opõem na configuração geral do mundo, das sociedades e dos
homens:
As oposições se
interpenetram revelando as diferenças, o dinamismo e o equilíbrio entre os
elementos. Por extensão, podemos avaliar os fatos entendendo a princípio que
tudo deve ser pensado enquanto parte de um todo que precisa de equilíbrio.
Fatos negativos, que nos frustram, fazem parte de um universo de possibilidades
no qual nada pode ser descartado, nada é verdadeiramente inútil.
É ótimo poder partilhar desse conhecimento que esse livro traz.Queria muito vê-lo publicado em papel..
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