segunda-feira, 12 de novembro de 2012





Capítulo 3 – E se não der certo? De quem é a culpa?
 “A principal e mais grave punição para quem cometeu um erro está em sentir-se culpado”. Sêneca
                                                                                                                                 
Talvez a palavra mais tenebrosa, sombria e devastadora na mente de uma pessoa de bem seja a palavra culpa. Ela garante que o erro se perpetue como principal preocupação. Não se tenta mais acertar, mas tenta-se desesperadamente não errar.
Sempre procuramos ver onde erramos e não onde acertamos por razões simples: é culpa do erro as coisas não darem certo. E acreditamos verdadeiramente que quando algo vai mal isso é ruim, sem nos darmos ao menos a oportunidade de refletir sobre o porquê das coisas não acabarem como desejamos.
Há algo mágico que não percebemos naquilo que não se realiza. Um antigo dito oriental diz que Deus é tão sábio que nem sempre nos dá o que pedimos, mas o que precisamos. Imaginemos se fôssemos atendidos quando rezamos a oração do Pai Nosso,  especialmente no trecho em que se diz “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Se Deus nos atender e nos perdoar da mesma forma como perdoamos a quem nos ofende, estaremos condenados para sempre.
Quem de nós perdoa, na mesma proporção em que deseja ser perdoado?
Por mais que se procure, não se encontrará uma só pessoa que não queira ser feliz e fazer as coisas certas. Quem acaba infeliz, errou tentando acertar. Não acertou porque não estava pronto para isso, e acabou parando no erro, sem tentar de novo. Fracassar  custa muito caro, nossa autoestima, nossa imagem, nossas emoções, tudo padece quando falhamos, temos a nítida impressão de que refazer é impossível.
As famosas pastilhas cerâmicas imantadas, que fazem os trens flutuarem sobre os trilhos,  foram testadas em centenas de fórmulas diferentes. De todas as tentativas, só uma funcionou. As outras foram arquivadas para os cientistas nunca se esquecerem de como não acertar.
A ideia de culpa está ligada à expectativa que temos em relação aos outros  e a nós mesmos. Esperamos que todos entendam o que somos, o que queremos e o que fazemos. Custa muito admitir as falhas dos outros e principalmente a nossa. Se os erros forem considerados o fim da linha, então as coisas se complicam muito.
Empresas vão à falência e casamentos são destruídos especialmente porque alguém tem alguma culpa, sempre temos o responsável por tudo acabar mal, não importando o quanto a pessoa foi verdadeira em suas boas intenções.
A maioria das pessoas já se dá por satisfeita se descobrir quem errou e como errou. Geralmente as pessoas param no erro, sem repensar o que levou ao erro e que poderia conduzir a uma ação mais acertada.
Uma recente pesquisa de dois estudiosos brasileiros revelou algo curioso sobre o sentimento de mágoa. A pesquisa entrevistou centenas de pessoas perguntando o que mais as magoava em seu cotidiano, numa lista de vários itens em que constava, entre outras razões para as decepções, o trabalho, a família, a morte, as guerras e os amores.
Surpreendentemente, os mais jovens colocaram em primeiro lugar o namoro e em segundo lugar a relação com os pais como as principais e maiores razões de suas angústias. Por outro lado, adultos casados colocaram seus filhos como a última causa de seu sofrimento emocional.
Esses dados comprovam dois fatos curiosos: quando jovens,nós temos maior tendência a sofrer nas situações  que implicam proximidade afetiva e alto grau de expectativa, no caso dos nossos pais e das pessoas com quem nos relacionamos afetiva e ou sexualmente. Esperamos muito das pessoas mais íntimas por julgarmos que elas têm a obrigação de satisfazer nossos anseios.
Por outro lado, o tempo  e a experiência que os pais têm a mais podem ajudar a perceber melhor a natureza dos conflitos que decorrem das frustrações em relação aos que amamos de forma mais intensa.
Daí chegamos a um ponto fundamental na questão das frustrações e da  culpa decorrente dessas frustrações: É a nossa perspectiva emocional que interfere no julgamento dos fatos e acaba determinando que sejam percebidos como bons ou ruins. Nossa compreensão do mundo e das pessoas é direcionada especialmente pelas nossas emoções, o que não é exatamente mau, mas definitivamente limita o alcance de nossa percepção de tudo quanto acontece ao nosso redor.
Para ilustrar isso, basta lembrar de um fato ocorrido nos anos 80, quando a uma empresa fabricante de bombons encomendou uma pesquisa para saber por que as vendas de seu produto  – uma caixa com bombons de vários tipos – haviam caído. A embalagem, na época, era vermelha.
Depois de um levantamento que incluiu uma pesquisa de preferência, descobriu-se que o produto vendia pouco por causa da embalagem vermelha, que parecia excessivamente feminina para os compradores homens. Trocou-se a cor por azul e as vendas  cresceram.
O problema não estava no produto, elemento mais importante, pois ninguém comia a caixa, mas sim na embalagem. Às vezes o problema não está exatamente no que somos ou queremos, mas na forma como isso é visto pelas pessoas.
Quando adolescente, eu já trabalhava e tinha dinheiro suficiente para bancar meus modestos gastos. Porém um dia, por descuido, fiquei sem dinheiro para pagar uma conta que venceria antes do pagamento e pedi ao meu pai a quantia de que necessitava a título de empréstimo. O que ele me disse foi que eu era irresponsável por não cuidar bem do meu orçamento e que ele não era responsável pela minha desorganização.
Acabou me emprestando o dinheiro, mas fui ameaçado de uma surra caso algum cobrador viesse até minha casa por qualquer que fosse a dívida. Eu tinha 14 anos e odiei sinceramente a rigidez e  rispidez com que fui tratado pelo meu próprio pai, mas hoje penso que esse tratamento não foi diferente daquele que a vida e a sociedade dá aos devedores, além de que, hoje, entendo que a angústia de viver endividado seria muito pior que aquela bronca desmedida para um jovem de 14 anos.
Situações ruins que vivenciamos podem se reverter em noções fundamentais para a manutenção de uma vida mais equilibrada e serena no decorrer dos anos.

2 comentários:

  1. Que bela perspectiva sobre o erro e as suas consequências...Seu livro é realmente muito esclarecedor.Espero ansiosa o próximo capítulo :)

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  2. Olá Pfº Manoel, como vai?

    Como está muito ligado a literatura, tens em suas mãos a partir de agora, algo precioso numa bandeija de ouro.

    Espero que receba com carinho, pois tem no seu interior, respostas, e direção para e resto de sua vida.

    Um abraço. e até mais.

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